sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dia do Samba

Tem Mais Samba
Chico Buarque/1964
Para o musical Balanço de Orfeu de Luiz Vergueiro

Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer
Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver
Esse samba é um dos que eu considero mais lindos do Chico. Extremamente abstrato, mas ainda assim de rápida percepção do sentido. Mas, aqui cito meu amigo Rhamom Menezes, que tanto me condena por eu dar tanto valor à forma quanto ao sentido da poesia, deixemos de lado a beleza da letra em si, e nos debrucemos sobre a forma poética da letra.
Procurem reparar no comprimento dos versos em que se "Tem Mais Samba". São decassílabos. Quantos tivemos deles? o decassílabo, dentro da "normas de formalização" poética, é que o que se pode chamar de metrificação perfeita. sonora, rítmica e esteticamente, o decassílabo é tão versátil e gostoso quanto um heterométrico, quando o leitor deixa de se preocupar com a forma e olha primordialmente o sentido. Nesse contexto, e aqui que o gênio do Chico se faz presente, dizendo tanto apenas ao utilizar uma métrica, pode-se supor que ele fala que o samba é um remédio para todos os males da alma, tão versátil quanto um verso decassílabo. E, convenhamos, o samba é, realmente, um remédio para todos os males. Viva o dia da samba!
 Por Datan Gaio

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