domingo, 28 de agosto de 2011

Não matem o Samba!

O samba não é mais belo e nem melhor do que o Rock. Calma bambas, eu explico. Há algum tempo, por exemplo, conheci pessoas que gostam de Rock and Roll, era a época em que eu fazia teatro. Nos encontrávamos às terças e quartas feiras no bairro Manoel Julião, mais precisamente na residência de uma dessas pessoas que adoram tal estilo musical. Eram tempos em que não tínhamos nada para fazer a não ser falar de música, poesia e cinema, tempos em que existia dentro deste mesmo grupo certa disputa para saber qual movimento cultural era melhor: O samba, defendido por mim e por mais uns três, ou o Rock and Roll, defendido pela a maioria, mais ou menos quinze pessoas. Confesso que essas discussões me acrescentaram e muito para ser a pessoa que sou hoje, com uma visão bem mais ampla sobre artes e me fazendo aprofunda-se mais sobre o samba, movimento que eu gosto e levanto a bandeira e, ainda, me fez admirar o movimento do Rock, defendido por boa parte de meus amigos. Nessas discussões, que na medida do possível, sempre foram bem respeitosas, percebi e entendi que tanto o Rock, como o samba, sofreram (r) evolução – Há quem diga involução - e influenciaram o surgimento de outros estilos musicais, bons ou não, mas influenciaram. Ambos os estilos foram e são essencialmente importantes para a formação cultural de várias gerações, contribuindo com a chamada MPB dos dias atuais. Mas o que me deixa um pouco chateado é que mesmo sabendo que, apesar de diferentes, esses movimentos têm sua importância peculiar e devem ser valorizados como música de boa qualidade. Coisa que não acontece, e ainda por cima distorcem o real objetivo do nosso Clube do Samba. 

Acontece que alguns dias atrás, em uma mesa de bar, conversando com um “sambista por excelência” – É dessa forma que o miserável se intitula – me fez refletir muito sobre essa disparidade entre o Rock e o Samba, aliás, sobre alguns “Sambistas” e “Roqueiros.” O Tal miserável, vale destacar, é torcedor da Beijar Flor e zomba de mim por eu ser mangueirense, no alto de sua prepotência e burrice, me solta uma pérola bastante infame: “Salve o samba e morte ao Rock! Pra que Rock? Não precisamos do Rock! O Rock é uma besteira sem fim. É zoada desnecessária, é feio, é coisa de gente BURRA! Viva o meu bom e velho samba. Temos que acabar com o Rock e é o Clube do Samba Acre que vai começar com isso porque vocês têm que ter a essência do verdadeiro sambista dentro de vocês”. 

Medito sobre o ocorrido desde então. Parece mentira, mas eu me senti ofendido com tantas bobagens, parecia que eu era roqueiro. Contive-me a qualquer reação, e quem me conhece sabe o quanto isso é difícil pra mim, mas hoje, por qualquer motivo, me veio esse episódio em mente. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver uma idéia tão bacana como é o Clube do Samba Acre ser distorcida desta maneira por falta de respeito e preparo alheio. Há quem diga que sambista de verdade não gosta do Rock que sambista de verdade odeia roqueiros, que o samba é a única coisa que presta. 

Imagino um Clube do Samba cheio de miseráveis como este cidadão, e tremo. Sei de pessoas que, infelizmente, adorariam que só existisse samba (leia-se pagode mauricinho) pra se ouvir e curtir. Mas como esses sambistas por excelência tratariam Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e os Titãs? Não quero nem pensar no destino de músicas como “Que país é esse?” “Infinita Highway” e “Comida”. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias das músicas de pagode mauricinho? Imaginem vocês saindo de casa para um show do Jeito Moleque ou do Sorriso Maroto? “Ela mexe comigo e pior que não sabe, comentou com os amigos, minha outra metade”. Ora, o pagode mauricinho é derivado do samba, e o aparecimento de mais pagode seria natural se só houvesse o movimento do samba, ou seja, mais merda pra se ouvir. 

Já imaginou o que esse tipo de coisa poderia causar? Só samba e nada de Rock? Do jeito que esses sambistas por excelência são, eram capazes de queimar discos do Led Zepellin, Pink Floyd, Ozzy e até mesmo os álbuns maravilhosos do Beatles. Seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Rei Elvis. Quem, entre esses ditos sambistas, carimbaria alguma música do “zoadento” grupo Angra ou do AC DC? Como ficaria a juventude de outrora sem ser Maluca Beleza ou Metamorfose Ambulante? Como ficaria a música popular brasileira sem Barão vermelho, Rita Lee, Capital Inicial, Raul Seixas, Ira!, Ultrage a Rigor, Paralamas do Sucesso e João Penca e seus miquinhos amestrados? Sepultura e Ratos do Porão nem se fala. Sim, tudo isso ou é Rock ou é banda que sofreu influência deste movimento. Eu fico me perguntando como eu ia descobrir Celly Campelo sem ouvir “Estúpido Cúpido”. Meus livros de português não teriam citações do Renato Russo e Cazuza. E com que música a juventude dos anos 80 seria embalada em tons de protesto contra a ditadura? E o cimena? Ficaríamos sem Bete Balanco, Rock Estrela, Menino do Rio, todos esses filmes sendo influenciados e tendo o Rock como trilha sonora. The Doors? Jimi Hendrix, Janis Joplin? Nem se entra em discussão, quero me manter apenas no Brasil que é a terra mãe do samba. Um Brasil sem o Rock não existiria a Jovem Guarda, o Tropicalismo, o movimento Hippie, esqueçam Roberto Carlos e Caetano Veloso, e os Novos Baianos nunca iam poder curtir a garoa de Sampa. Pepeu Gomes jamais aprenderia tocar guitarra e talvez nunca conheceria Morares Moreira. O Sá, o Rodrix e o Guarabyra não iam fazer o Rock Rural e minha mãe não teria como cantar aquele refrão tão bonito pra mim ao me balançar na rede: “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rocks rurais” 

Um Brasil sem o Rock significaria o Acre sem o Rock! E então não teríamos A banda Silver Cry, Fire Angel, Pia Villa, banda Dream Healer, Grupo Capu, Nicles, Soldier, Metal Live e Filomedusa e nem a maravilhosa Os Descordantes do meu Amigo Diego. Aliás, o que seria da moçada do Acre sem Los Porongas e Camundogs? Sem essas referências? São tão boas quanto Terreirão do Samba e Roda de Samba, que são os melhores a se destacar no que concerne ao samba, cada um em seu âmbito. O que seria do movimento cultural acreano sem esses roqueiros? Sem Diogo Soares, sem o incansável Pia Villa, sem o Araão Prado? Sem o Saulo, sem o Kílrio, sem o Glauber e tantos outros amantes do Rock and Roll? Cultura Acreana sem Coletivo Catraia? Impossível. Sem falar em outros movimentos culturais do nosso Estado que tiveram a participação efetiva de vários desses citados acima que se esforçaram muito para acontecer. Cada vez que um sambista diz que quer a morte do Rock ele está matando um pouco o Samba. E pedindo licença aos meus amigos sambistas, quero parafrasear Nelson Sargento: “Rock! Agoniza, mas não morre. Alguém sempre te socorre antes do suspiro derradeiro.” Prefiro, sem balbuciar, ler as letras do John Lennon, Jim Morrison, Paul McCartney, Kurt Cobain a qualquer música de um grupo de “samba” como Adryana e a Rapaziada ou Terra Samba.

Não posso esquecer de dizer que Chico Buarque cantava Elvis em seu tempo de escola, que a banda Los Hermanos, conhecida como Rock Alternativo, tem várias composições de samba, que Jorge Ben Jor, com diversos sambas feitos, tem influência do Rock, fato que também é característico do Grupo Novos Baianos. E Todos são sambistas, talvez não por excelência como o meu colega de copo, mas bem mais respeitadores do Rock. 

O Clube do Samba Acre tem como uma das suas metas preservar o Samba e defendê-lo, exaltando seus poetas, mestres e cantores. Dizer que queremos que o Rock acabe e que não gostamos de Rock é exagero. Ao contrário, queremos que o verdadeiro Rock and Roll fique mais vivo a cada dia que passa. Um Mundo sem Rock and Roll seria um mundo cheio de sambistas de verdade e não por excelência, tristes e mais pobres culturalmente.

Portanto, Oxalá nos proteja de um mundo sem Rock e que o Zé Pilintra guarde todos os roqueiros. E muito samba na veia.

Rhamom Menezes (@rhamommenezes)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Samba é Nossa Nobreza

                  A música, ou melhor,  a arte como um todo, mas a música em especial, é uma coisa muito intrigante mesmo. Ela traz à tona quem somos. Chega a ser curioso como pessoas criadas no mesmo ambiente, com quase as mesmas experiências culturais, tenham gostos tão diferentes. Como eu e minhas irmãs, por exemplo.
 Partindo-se do pressuposto que o ser humano é moldável, moldado de acordo com as experiências vivenciadas, alguém não tão perspicaz poderia dizer que, tendo-se três pessoas jovens, inexperientes, com a mesma fonte de  informação cultural e  vivenciando as mesmas experiências juntos, essas três jovens pessoas teriam virtualmente o mesmo gosto cultural. Feliz ou infelizmente não somos tão simples assim. Todos têm uma essência, única, um algo mais que os outros não têm. Esse algo mais, para mim, é o samba.
                Curioso, pois gosto de outros estilos também. Escuto muito erudito, rock, jazz, blues... mas o que realmente mexe comigo, que, quando eu escuto, sinto algo que não sei explicar, algo que te faz dizer: "caramba, é isso!", é só o samba.
 Triste é que, para os desavisados, faz-se necessário dizer de que samba estou falando, o que é realmente lamentável, mas... Lembro de uma história do Mestre Tuisca, grande músico e capoeirista de Anápolis, Goiás, que tive a imensa honra de conhecer. Alma sensível, grande pessoa.
 Ele estava tocando em um evento organizado pela prefeitura da cidade, músicas de compositores como Tom Jobim, Baden Powell, Cartola, Guinga, Vinicius de Moraes, Chico Buarque. Até que chega um grupinho infame de adolescentes e perguntam para o Tuisca: "Puxa, você está tocando MPB né? Toca um samba pra gente?" E o Tuisca, por sua vez, responde, intrigadíssimo com tal pergunta capciosa. Talvez seja uma charada, pensa ele, e então responde, pisando em ovos: "O que vocês chamam de samba? Porque estou tocando samba desde que cheguei aqui". E então os meninos desferem, impiedosamente: "Não, mas a gente ta falando de samba MESMO,  entende?"
                Confesso que morri de tanto rir quando Tuisca me contou essa estória, mas ela encerra algo realmente triste em sua essência, que é o total desconhecimento da cultura brasileira, por parte dos próprios brasileiros.
                Mas, então, alguém pode contra argumentar, me questionando se esse certos tipos  de produções musicais, como as milhares que pululam e proliferam por aí, também não fazem parte da cultura popular brasileira, já que "todos" gostam e escutam, sendo, portanto, inserida no grande universo que é a MPB.
                Digo, em resposta, que isto é uma questão muito delicada. Vamos primeiro tentar definir o que é música popular. Música popular é aquela música que surge dos movimentos que a sociedade faz em seu fluir histórico (Perdoem-me. Coisa de marxista, esse papo de fluir histórico), tendo em seu bojo o contexto histórico, político e social, cujo amadurecimento leva anos, quiçá décadas (como no caso do samba), ou um tipo de música que surge da necessidade do mercado de se ter algo pra se mercantilizar, prencheendo uma lacuna que a ignorância e a falta de informação deixaram? Peguemos, como exemplo, o sertanejo. O sertanejo hoje nas paradas de sucesso tem pouco a ver com o sertanejo de raiz. Está muito mais para Pop Rock do que sertanejo, mesmo. Alguns chamam isso de "evolução", que a música não é algo estático, está sempre se recriando. Eu chamo isso de jogada de marketing, mesmo. A música realmente não é estática, ela se recria, se renova, funde estilos. Seria algo como a seleção natural: O que define a sobrevivência de cada estilo deve ser a identificação que a sociedade tem com o mesmo, e não o apelo comercial que tal estilo tem. Mas parece ser um circulo vicioso, porque, para um estilo ter apelo comercial, é necessário que ele seja previamente bem aceito pela sociedade. Mas vejamos mais profundamente.
                Não é nenhum segredo que, no Brasil, o acesso a informação é extremamente limitado. A única fonte informação realmente presente em todos os lares brasileiros é a televisão/rádio. A bagagem cultural de quem só tem acesso à informação via mídia chega a ser inverossímil de tão parca. Talvez, se houvesse um maior acesso à informação, o cenário cultural brasileiro fosse diferente. Digo talvez porque, como disse lá em cima, existe uma preferência individual por certas coisas que não é adquirido por experiências externas.
Conheço gente com uma visão de mundo bem ampla e profunda e que, no entanto, só gosta de porcaria. Talvez o país seja mesmo destinado à mediocridade cultural, sem conhecer as riquezas que ele mesmo produz. Talvez não. Talvez sim...
 E é nesse contexto que o Clube do Samba Acre tem fundamental importância de não só resgatar o samba enquanto gênero musical, mas também resgate histórico de um estilo de vida, estilo esse que faz parte de nossa bagagem cultural, faz parte da nossa alma brasileira.

                                                                                                Datan Gaio

sábado, 6 de agosto de 2011

Clube do Samba Acre


O samba é a nossa nobreza. E como título nobiliárquico, não morre, mas vive nas futuras gerações. Como diz o grande sambista de mangueira Nelson Sargento: “samba agoniza, mas não morre”.  Um grande exemplo disso é o movimento desencadeado pelo nosso patrono  sambista João Nogueira,  na década de 80, quando o samba começou a ser abafado no mercado fonográfico e pela mídia, cada vez mais controlada, com o boom da  importação de músicas estrangeiras .
Precisamos de um espaço criado com o objetivo de cuidar e preservar da nossa cultura popular, o SAMBA.  Assim o mestre João Nogueira idealizou este clube, que frutificou, se expandiu e hoje é um grande prazer tê-lo aqui em Rio Branco.
Fundando em 26 de Abril, o Clube do Samba Acre tem a finalidade de criar um espaço onde seja possível a integração aos amantes do samba, com objetivo de resgatar e defender a cultura do samba e através dele viabilizar ações filantrópicas, entendendo que o samba, mais do que um ritmo musical, é uma cultura ampla, que traz em seu bojo a responsabilidade social de uma organização sem fins lucrativos que tem em comum o amor ao samba.
Com o Clube do Samba Acre fundado, já com um estatuto social próprio, é hora de avançar de acordo com nossos objetivos, e dentro desse enfoque a criação desse blog é de fundamental importância, pois se trata de mais um instrumento de integração e troca de informações que teremos para auxiliar o Clube do Samba Acre, o nosso clube.

Anderson Liguth -  Presidente do Clube do Samba Acre